quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

ALQUIMIA DO NONSENSE

Poemas que variam entre o simbólico e o surreal. Alguns dependem da interpretação do leitor para ter sentido e (ou) significado.



II


Face vermelha estava amarela

Até que um palhaço brincou com ela

Face vermelha tornou-se escarlate

E socou o palhaço peralta

O clima ficou roxo

Mas foi só saber que Face lhe adora

Que o palhaço vestiu-se de anjo

Vendo-o face vermelha se tornou rosa

E o anjo outrora palhaço ouro

E o resto do dia foi branco


Leandro Monteiro




III



A corda se rompeu

Não tinha mais asas

Ao cair do chão

Minhas patas tornaram-se pernas

Não sabia se podia andar

Mas consegui me erguer

Pensei que outro tombo seria a morte

Estava tão crente disso

Que quando caí

Nada senti

Ao não ser o desconforto do meu corpo



Olhei para cima

Então pude ver o céu

Era a primeira vez que via a abóbada celeste

Desejei ver a aurora

Comecei a imaginar indo para lá

De tanto devanear recuperei minhas asas

Mas antes que eu percebesse

Tinha ruído o solo onde estava

E perdido toda a minha memória.




Leandro Monteiro




XIX



Flecha no ar

Pedra a pular

O Instante é o eterno vilão

De toda existência



Mesmo assim

Só desse modo

Pode-se sentir sem sentir

Toda a oca eternidade




Leandro Monteiro




XXXII



Meu abraço é violeta

Com a mão carinhosa profundamente a tocar

A tua pele sedosa

E as minhas unhas a cheirarem teu sangue escarlate com rosa

Preparo enfim para demonstrar o meu amor

Minha última misericórdia

A te selar em tom rosicler com a boca desvairada

Apunhalando-te pelas costas

Com minha traição




Leandro Monteiro



XXXVII



Não aguento mais

Acho que a

A



De quem é aquela

Cabeça que saiu do corpo

Parecia fazer abalar

Por precaução separara do corpo

Agora seus membros mais jovens estão tranqüilos

Descansado dos apocalipses dos pensamentos

Que fazem os dedos tremerem

E os estômagos arderem



Ah como foi bom

Curtir as férias de 3 três dias

Com preocupação com a cabeça fora para administrar

Mas é hora de chamá-la

Ali ela está

Venha cá Estou à beça de precisar-te

Cabeça

Venha cá

Finalmente tu chegaste



Não aguento mais

Acho que minha cabeça vai explodir



De novo não




Leandro Monteiro




XLII


Branco é tranqüilidade

Mas atormenta

Branco é paz

Mas angustia



Sou ele ela ou eles

Sou quem

Sou o que

Sou o qual



Branco é cor da ausência

Ausência do nada

Antes fosse preto

Ausência do tudo



Antes fosse também

Ser nada diante de tudo

Que tudo diante de nada



Branco sou

Não Branco estou

Falta achar na mente

A cor que eu lembrava




Leandro Monteiro




XLVI



Sai

Da corda o tigre

Do muro o coelho

Do espinho o pombo

Do desfiladeiro o peixe



E eu

De onde sou

Do mar morto




Leandro Monteiro




LI


A vida é fantasma

Para quem sempre a parece

Na sombra do olhar




Leandro Monteiro




LXXIV


O ovo é céu concreto

Ele de fora neve

Eu de dentro que estou

Mas não enxergo

Os olhos detrás do ovo

Ele não existe

Só o ovo tem vida



Depois de dias

O ovo morreu

E ele meu deus

É apenas um homem comum



E eu o enxergo

A luz do sol

Que ilumina minha vida

De ovo quebrado




Leandro Monteiro

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